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Apresentação e explicitação da vida Portuguesa como sinónimo da nossa nacionalidade passando pelos mais variados temas, sem contudo esquecer, o debate de temas proibidos que pecam e se perdem na ignorância dos povos e a sua abordagem por parte dos sectores políticos vigentes. "Ubi veritas?"



quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Companhia Carris de Ferro de Lisboa - Carris de Lisboa. Quando a morte está anunciada.

O que fazer quando a morte está próxima ou os momentos que a antecedem nos causa uma agonia de sermos nós, sermos gente.
Todos nós morremos das mais variadas formas.
Este texto não tem nenhuma conotação com algo literário, ou presunção de ser uma ideologia que carece ser observada.
Este texto traduz-se na mágoa de pertencer ao povo que prefere a inércia, que prefere abdicar da sua existência, na persistente procura de alguns da felicidade que tarda a acontecer, enfim, a profunda contradição da construção das sociedades justas e a total indiferênça quando somos confrontados com a tomada como regra da usurpação da nossa identidade.

Tive o privilégio de ler parte do livro - estudo "A França" de Alves Redol e que será inserido partes do mesmo neste texto. A sua inclusão, embora não pareça ter conotação com a problemática dos transportes públicos, ou com as alterações nefastas ao modo social construído em Portugal por parte deste governo fantoche sob as ordens de organismos internacionais e por todas as pessoas que o idoletram, é mais um contributo para que todos nós (apesar de não termos vivido os horrores da segunda guerra mundial) possamos tomar em consciência de que a unidade de um povo sob o pretexto de salvaguarda de uma identidade pode fazer a diferênça que todos no fundo ambicionamos. 

A relação do conteúdo atrás descrito com as vivências dentro da empresa (CCFL-Carris de lisboa) e com as outras relacionadas com a nossa posição enquanto cidadãos portugueses, leva-me a exercer um direito de opinião que seguramente vai de encontro às aspirações de muitos portugueses que são coniventes, ou aos que são contra um novo sistema social repleto de eliminação de direitos que durante muitas décadas outros conseguiram defender ou criar.

A mensagem anteriormente publicada neste blogue, refere já esta angustia e sensação de impotência em lutar quando nos é sugerido que as mudanças a efectuar em âmbito social ou de trabalho são inevitáveis e irreversíveis.

É um erro crasso pensar-se que o é, quando a tentativa de globalizar o planeta em pressupostos económicos e financeiros lesam definitivamente tudo o que se lutou e se ambicionou por sociedades justas elevadas ao sentimentos das pessoas como identidade a preservar.

O momento é de uma guerra de utopias e ideologias, da qual somente existem dois caminhos. Ou vamos continuar a ser pessoas no seu conteúdo e valorizadas nos direitos do homem ou a grande parte dessas pessoas vão ser eternamente escravos das variações e vontades de quem detém um mercado ou sector produtivo e que tenta valorizar a globalização.

Os exemplos quer na CCFL ou outras empresas, quer no quotidiano da generalidade das pessoas enquanto cidadãos são inúmeros. A mais recente agressão que diz respeito a todos nós tem a haver com a posição do Governo português com a cumplicidade de alguns dos parceiros sociais e com o aval e orientação do FMI,BCE e Comunidade Europeia sobre o novo Código de Trabalho.
Não foi para este momento que acontece actualmente nas nossas vidas que os nossos antepassados e homens que ainda estão no activo na àrea do trabalho lutaram e lutam.
Ao esvaziarem o conteúdo do que constou no anterior Código de Trabalho e aproveitando a inércia propositadamente criada para não haver revindicação colectiva, leva-nos a uma morte anunciada e não sendo mais rápida enquanto existirem pessoas que lutam por si e no fundo por todos.

As partes do livro de Alves Redol já mencionado e que vou introduzir neste texto, tem o intuito de criar em nós o sentido da unificação dos esforços de todos para que consigamos ser felizes em todos os parâmetros  da vida.
Embora o sentimento esteja relacionado com uma guerra mundial, pode ser perfeitamente adoptado como linha de pensamento daqueles que contestam o actual sistema social e não querem ser escravos. Contudo temos que estar cientes que se isoladamente lutarmos (quer nas empresas, quer enquanto cidadãos) será extremamente difícil conseguir os objectivos. 
Quer sejamos do sector público, quer sejamos do sector privado e independentemente do sector ou área de produção a que possamos pertencer, nunca podemos esquecer que somos portugueses e que dos esforços de todos podemos contrariar a escalada ao abismo que nos está a ser direccionada.
Lembrem-se que nós morremos porque temos várias mortes, quer sejam físicas, psicológicas, de valores, de identidade, enfim a que pretenderem ou a que vos for direccionada.

A transcrição da parte do livro que é um estudo, remete-nos á morte anunciada por fuzilamento de milhares de franceses que sucumbiram às mãos dos alemães durante o período do armistício. Contudo selecionei esta carta por ser a que me perturbou, ao imaginar o sentimento do seu autor e o apelo aos restantes camaradas para o prosseguimento da luta que era de todos.

Aproveito para deixar expresso o meu profundo reconhecimento, dor e o infindável agradecimento a todos eles que não conheci, mas que no fundo morreram pela justiça e pelo mundo no qual habito. Da minha parte vou continuar a dar prossecução aos seus objectivos e lembrar que as suas mortes não foram em vão. As lutas são em várias frentes, mas acredito que é possível sermos felizes e livres.

Obrigado

Aldino Peres

"A França" - Alves Redol (1948).

«(...) Gabriel Péri que o poeta Paul Éluard cantou e a França venera como um dos seus heróis, como um daqueles muitos que «morreram para que a França vivesse», na própria expressão da sua carta.
A carta dos fuzilados... Testemunho e testamento, último adeus e lição escrita com sangue para os homens que ficaram e não se quiseram submeter à tirania e à violência. (...).

(...)"Se morro jovem é porque amo a vida e porque queria que ela fosse bela, tornando-a bela para todos;(...). (...) Mais vale morrer jovem pelo seu país que morrer velho por doença, traindo a sua pátria. (...) Confirmo as palavras de Gabriel Péri: «Morro para preparar os amanhãs que cantam», e eu morro com a convicção de ter feito o meu dever de francês, de nunca ser contado entre os cobardes. Sei também que ficam bastantes camaradas para continuar a luta até à libertação. (...) Estou certo que o povo francês e todos os combatentes da liberdade saberão honrar a nossa memória com dignidade. (...) Nesse dia pensem um pouco em nós que morremos sem conhecer a libertação, ainda que a sentindo muito próxima e tendo trabalhado com todas as nossas forças. Estamos certos que alguns franceses injustamente assassinados, centenas, milhares de patriotas se erguerão para tomar o combate justo que deve ser a libertação de cada país e a felicidade de cada povo."(...).

E foram assim, dramáticas e heróicas na sua simplicidade, a maioria das cartas desses combatentes que defrontaram os pelotões e não quiseram vendas nos olhos, na sua maioria, para um último instante dizerem adeus à sua frança que tanto tinham amado e pela qual morriam.

(...) E em todos eles houve uma mesma esperança no futuro, a mesma fé nos outros que ficavam para continuar a batalha - a batalha que não terminou ainda e só será vitória quando todos os Eloi (crianças-nota do blogger) do mundo, quando todas as mães do mundo, olharem para o sol e para a natureza, como esse outro fuzilado, sem que nos seus corações haja a sombra duma injustiça; quando nos seus rostos se abrir um sorriso, um grande sorriso que o homem só poderá ter no dia em que a cada qual seja entregue a possibilidade de ter orgulho na condição humana.

(...) Aldeias inteiras destruídas por represálias. Populações dizimadas sem que o coração dos carrascos se fechasse ao ódio. Nem choros de crianças, nem súplicas de mães, nem gritos de noivas...

A consciência já não morava em peitos de homens. Eram soldados da morte que só se alimentavam de sangue. E tudo isto porque houve franceses que traíram. Tudo isto porque não escutaram as palavras dos que previam a hecatombe e eram até acusados de fautores de guerra.

(...)Tudo destruído como Lidice, a aldeia checoslovaca. E houve franceses que não compreenderam que a destruição de Lidice era já a destruição de Oradour e de Plomion... Lidice era já a destruição da alma humana. E muitos entenderam que não valia a pena baterem-se pela Checoslováquia, quando o homem no mundo é só um, em qualquer meridiano na terra. As crianças, as mulheres e os homens de qualquer nação sentem de igual maneira os mesmos crimes e as mesmas violências.

Nos primeiros dias da invasão quando os viram acarinhar as crianças, ajudar os velhos e sorrir para as mulheres, muitos pensaram que aquela guerra era diferente.
Depois os dias passaram; e como não tivessem entrado num país de escravos, fizeram as matanças colectivas - já não chegavam os muros dos fuzilamentos, nem as prisões, nem os campos de concentração.(...)»

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