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Apresentação e explicitação da vida Portuguesa como sinónimo da nossa nacionalidade passando pelos mais variados temas, sem contudo esquecer, o debate de temas proibidos que pecam e se perdem na ignorância dos povos e a sua abordagem por parte dos sectores políticos vigentes. "Ubi veritas?"



quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A greve da mala na CCFL - Carris de Lisboa.

Esta é uma resenha histórica da "greve da mala" efectuada pelos trabalhadores da CCFL (Carris) e vista na perspectiva de uma tendência político-partidária , em que o resultado final deveu-se à posição firme de todos que acreditaram que era possível. O certo é que, o que parece impossível, acontece quando a causa é o motivo em que todos esses trabalhadores que se revêm nela e geram uma luta de interesses. Só mesmo a firmeza e o acreditar produz os efeitos desejados.
Este texto advém do jornal "Avante" de Julho de 1968.

A greve da mala
A história que vamos contar passou-se num tempo em que ao romper de cada alvorada o carro operário distribuía o proletariado pelas fábricas e oficinas duma cidade colorida pelo amarelo dos eléctricos e o verde dos autocarros. Nessa época, a tracção eléctrica já sofria a concorrência crescente do poluente motor Diesel, mas o monopólio britânico dos transportes colectivos urbanos de superfície da Lisbon Electric Tramways Limited, teimava em acumular lucros à custa de longas décadas de exploração dos seus trabalhadores e dos utentes alfacinhas.
Cedo despontaram os protestos reivindicativos e as greves dos empregados da CARRIS que remontam a Julho e Setembro de 1909. Mas, durante a 1.ª República, a agitação laboral subiu de frequência, perante o comportamento repressivo da burguesia «republicana e democrática» triunfante em 1910. Os movimentos grevistas na Companhia Carris de Ferro de Lisboa ganharam uma visibilidade crescente e, entre 1919 e 1922, os transportes de Lisboa permaneceram na crista da onda do protesto operário. E, para suster o ímpeto dos trabalhadores, o governo republicano e democrático, mandou a Polícia assaltar a sede da Associação dos Empregados da CARRIS - Julho de 1920.

Com estas experiências, os empregados da CCFL chegaram ao advento do regime fascista português, enfrentando novas condições de luta e, neste quadro, abriram uma frente de promoção da consciência social. Em 10 de Janeiro de 1930, editam o n.º 1 de O Eléctrico – Órgão da Associação de Classe dos Empregados da Companhia Carris de Ferro de Lisboa. E, nessa linha, como publicações clandestinas, os comunistas do núcleo da CARRIS divulgam, em 1 de Abril de 1932, O Eléctrico Vermelho; em Julho de 1934 reaparece O Eléctrico, como Órgão do Sindicato Unitário da Indústria de Tracção Eléctrica – aderente à CIS (organização sindical ilegal), e na sequência da vaga de prisões que varreu a empresa surgiu, em Junho de 1936, O Carril Vermelho - órgão dos presos comunistas da CARRIS. - Nos anos 40 constituem-se as comissões de unidade propostas pelo PCP, e o abaixo-assinado reivindicativo tornou-se forma recorrente de exposição. Na década de 50, já não se limitavam às exigências de aumento salarial. A organização corporativa tornara-se alvo do protesto: em 1957, denunciam a burla eleitoral no sindicato, apoiada por 875 assinaturas; no mesmo ano clamam contra a integração dos seus serviços sociais na Caixa de Previdência Nacional e, em 1958, denunciam o contrato colectivo de trabalho. Mas, a repressão que se abateu sobre todos os que se destacaram na campanha das eleições de Humberto Delgado, atingiu seriamente a célula do PCP e a organização dos trabalhadores da CARRIS. Contudo, de Fevereiro de 1960 a Junho de 1968, foram incontáveis as concentrações junto da administração da empresa, exigindo melhoria das condições de trabalho e enfrentando a ferocidade dos cães policias e dos polícias cães. Mas nada os demoveu da luta: recusaram horas extraordinárias; motoristas e guarda-freios reduziram a velocidade de circulação, e de 1 a 3 de Julho de 1968, os condutores fizeram greve à cobrança de bilhetes.

Numa época em que os passes constituíam raridade, o patronato inglês ficou privado da volumosa receita diária, sem paralisação dos transportes; o salazarismo não conseguiu esconder uma greve habilmente urdida, além de entusiasticamente acolhida pela população de Lisboa e, a unidade e firmeza dos trabalhadores da CARRIS assegurou-lhes a conquista duma "folha de alface", isto é, um aumento de 20$00 diários, amplamente divulgado pelo destaque na primeira página do Avante! em Julho de 1968.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011