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Apresentação e explicitação da vida Portuguesa como sinónimo da nossa nacionalidade passando pelos mais variados temas, sem contudo esquecer, o debate de temas proibidos que pecam e se perdem na ignorância dos povos e a sua abordagem por parte dos sectores políticos vigentes. "Ubi veritas?"



sexta-feira, 29 de julho de 2011

Marinha mercante portuguesa - Infante Dom Henrique.

Infante Dom Henrique

Infante Dom Henrique-05

Concepção e Construção (1959 - 1961):

Sendo o maior navio de passageiros construído para Portugal e construído pela prestigiada empresa Cockerill no estaleiro de Hoboken (Bélgica), o Infante Dom Henrique foi o maior navio de passageiros na marinha mercante nacional, tendo sido começado a construir em 23 de Março de 1959. Estéticamente, este barco fazia lembrar alguns dos melhores construídos pela mesma empresa para empresas italianas ( como o "Cristoforo Colombo") e para empresas escandinavas ( como o "Oslofjord" e o "Bergensfjord"), as características evidentes na construção são as curvas acentuadas no casco e superestrutura em camadas, mastro de rádio moderno, aerodinâmico e posicionado no centro  em frente à chaminé, afterdecks em terraços e popa em forma de colher. A sua chaminé era uma versão modificada do tipo "Lascroux" com a sua frente e traseira aberta com ventilação ( o "Cristoforo Colombo" e o "Jadotville" ostentaram projectos similares).

Em concorrência directa com a Companhia Nacional de Navegação (CNN)  a construção de novos navios que eram ao mesmo tempo construídos no Swan Hunter, Wigham, Richardson Neptune Works Yard de Newcastle-upon-Tyne, o Infante Dom Henrique da Companhia Colonial de Navegação (CCN) era ligeiramente maior e talvez mais inovador.

Ambas as companhias (CCN e a CNN) faziam ligações de Lisboa - Àfrica, ligando Portugal com seu oeste e as colónias da costa leste. O Infante Dom Henrique partiu de Lisboa via Funchal, LuandaLobitoCidade do Cabo e Lourenço Marques para as Beiras e fazendo a viagem de regresso na mesma escala. O Infante Dom Henrique teve como madrinha de baptismo Maria Teresa Soares da Fonseca que era a esposa do presidente da administração da CCN. Tal evento aconteceu no dia 29 de Abril de 1960 e desde logo começaram as suas experimentações de mar durante aproximadamente um ano. Problemas de vibração tiveram que ser corrigidas antes da sua viagem inaugural em 21 de Setembro de 1961.

O Infante Dom Henrique na sua viagem inaugural transportou um total de 1.018 passageiros: 156 em primeira classe (com oito suites deluxe), 384 em classe turística A e 478 na classe turística B. Sua tripulação era de 318 pessoas e em termos de área para logística tinha quatro zonas (porões) com uma capacidade combinada de 10,504 metros cúbicos de carga geral e frigoríficos. O seu conforto e nomeações foram superiores e modernas para a época.


Era das linhas portuguesas (1961 - 1976):

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O Infante Dom Henrique prosperou a partir da década de 1960, orgulhosamente carregando  o seu complemento de passageiros de e para as colónias Portuguesas.
A primeira viagem oficial pelo presidente António Tomás realizou-se em Setembro de 1963, uma distinção que ele dividia com outros dois navios - o Príncipe Perfeito (da CNN) e o Funchal (da Insulana).

Até o início da década seguinte, dois factores importantes afectaram o passageiro Português, logo, a frota inteira da marinha mercante, sendo o aparecimento das ligações aéreas através do aviões "Jumbo" e o processo da descolonização de Angola e Moçambique os factores mais importantes. O avião a jacto "Jumbo" chegou em 1972, apenas a tempo de se unir com a crise dos combustíveis para impulsionar a uma morte prematura os navios da marinha mercante e o surgimento de empresas de sucata na Tailândia. Em pouco anos, a maioria dos  barcos Portugueses navegaram para o desmantelamento em Kaohsiung. O Santa Maria, Vera Cruz, Moçambique, Niassa, Império, etc, nunca mais voltariam ao cais de Lisboa, enquanto as três empresas mal conseguiam sobreviver, a CNN (que se fundiu com a Sociedade Geral), CCN e Empresa Insulana (que já haviam se fundido com a Companhia de Navegação Carregadores Açorianos) foram combinadas para formar, em 1974, Companhia de Transportes Marítimos (CTM).

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Em 1974, as colónias foram alvo do processo da independência, efectivamente acabando com as linhas de transporte de passageiros e mercadorias para o continente Africano. O "Príncipe Perfeito" foi vendido em 1975 para tornar-se num navio alojamento, enquanto o "Funchal", "Uíge", "Infante Dom Henrique" e o "Ponta Delgada" foram para a nova companhia então formada (CTM) e ostentando as respectivas novas cores na chaminé. Destes, só o Infante Dom Henrique viajava praticamente vazio para o continente Africano e quase exclusivamente para voltar só com os refugiados e militares. Em Janeiro de 1976, ele foi colocado numa doca na zona de Lisboa.

Na ùltima viagem a Moçambique em 24/12/1975

Era de " Hotel-Alojamento" (1977 - 1986):

Em 1977, ele foi vendido para a GAS (Gabinete da Área de Sines), para ser utilizado como navio alojamento para os trabalhadores do porto e área de Sines. A antiga vila de pescadores foi sendo convertida num grande centro industrial e o Infante Dom Henrique servia como habitação permanente a esses mesmos trabalhadores. Depois de um reequipamento de 10 milhões de Dólares, que incluiu a construção de uma bacia em torno do navio, o Infante seria aberto em Novembro de 1977 como um hotel flutuante. Infelizmente, o desenvolvimento da zona foi rápido e o navio em breve foi quase tomado ao abandono e somente servindo como anfitrião aos visitantes que ocasionalmente apareciam na zona durante os anos em que esteve atracado. Com a ferrugem a desenvolver e a sua pintura a desbotar, depressa o navio começou-se a desfazer relegando o seu passado glorioso às amarras de um cais improvisado.



O retorno a Cruzeiro (1986 - 1997):

Barco de cruzeiro como Vasco da Gama: 

Em 1986 o barco estava sediado em Lisboa, foi então que o magnata armador grego George Potamianos entrou em cena para compra e reequipamento do navio de cruzeiro que até então se encontrava negligenciado, tendo sido registado pela empresa Trans World Cruises com bandeira do Panamá. Depois do processo de compra, o Infante Dom Henrique rumou novamente a Lisboa, onde chegou em Fevereiro de 1988. Em Março, sofreu uma remodulação/conversão para barco de cruzeiro em que o investimento rondou os $50 milhões. Em Nafsi, perto de Piraeus, os motores foram revistos, as cabines completamente reconstruídas com casa de banho privativas, antigas zonas amplas públicas foram convertidas em mais cabines e áreas (centros de conferência, lojas e casinos) e iincluindo a chaminé atraente que permaneceu com semelhanças ás das suas encarações anteriores (embora agora com as cores de fundo em amarelo e com as faixas azuis). Ficou então assim criado o "Vasco da Gama".


O Vasco da Gama entrou em serviço em Abril de 1999, oferecendo uma variedade de cruzeiros no Norte da Europa, acabando por cruzar o Atlântico para Nova Iorque num cruzeiro à volta do mundo, e mais tarde a partir do Mediterrâneo. Entretanto em Lisboa em 05 de Dezembro, sofreu um incêndio na casa das máquinas que causou danos significativos e que exigiu ser rebocado para Bremerhaven, chegando para reparações em 17 de Dezembro. Antes já tinha havido problemas na caldeira no mês de Junho, que o tinha colocado fora de serviço durante quinze dias tendo sido reparado igualmente em Bremerhaven.


Barco de Cruzeiro como Seawind Crown:

Em 1991, Vasco da Gama embarcou em uma série de cruzeiros no Brasil e em seguida assumiu o segundo nome Seawind Crown para uma operadora norte-americana "Seawind Cruise Lines" numa viagem inaugural em cruzeiro de sete dias para Aruba.


Embora sob a bandeira da Seawind Cruise Line, a sua chaminé e a nova farda da tripulação era toda branca com um círculo azul em torno de uma imagem estilizada de um navio moderno.Esta era a imagem tradicional do Seawind Crown que uniformizava com outros navios de outras companhias que operavam a partir dos Estados Unidos.




A companhia "Seawind Cruise Line" através do Seawind Crown saiu-se bem no mercado de Aruba no seu itinerário de sete noites conjunto com escalas em Curaçao, CaracasGrenadaBarbadosSt. Lucia. A sua clientela era originária dos EUA, Europa e América do Sul. Em 1995, o navio foi comprado de imediato pela Seawind Cruise Line, oficialmente largando o VASCO DA GAMA nome de seu arco.Ao mesmo tempo, um itinerário foi-lhe acrescentado, alternando com o original, oferecendo os seguintes portos:AntíguaBarbados, Guadalupe e Dominica com dois dias no mar. Ambos podem ser combinados para uma quinzena de Cruzeiro do Caribe.



Ultimos Anos (1997 - 2004):

No início de 1997, Seawind Dolphin Cruise Lines fundiram-se formando a Cruise Holdings Ltd, em que inicialmente se manteve as frotas com identidades por si diferentes. Em breve, a Cruise Holdings adquiriu um navio à Premier Cruise Lines, operação esta que levou à fusão das três empresas ostentando assim uma nova bandeira da Premier Cruises, Inc. O Seawind Crown foi enviado para uma grande remodelação no final do ano, para que estivesse de acordo com as especificações do normativo da "SOLAS" e foi alvo de mais modificações estruturais. O Seawind Crown remodelou-se na substituição da sua frente, a sala de jantar e sala de conferências com lojas e camarotes, cabines mais esculpida em áreas do grupo em frente ao Convés Atlantic e uma expansão da área "Tavern" num restaurante Lido e igualmente um Nightclub. A sua capacidade de passageiros aumentou  de 624 para 728  e foi pintado de azul conjuntamente com a chaminé bordeado com uma faixa dourada, no casco aparece agora um logotipo estilizado com letras a branco. 


O Seawind Crown tornou-se então pioneiro no conceito de navegação em circuitos turísticos pelo o seu conceito de navios oceânicos clássicos, o que causou um grande apreço pelos seus passageiros, oferecendo um variado programa de viagens. Além disso, o colapso da "Regency Classic Cruises" em 1995 não foi um impulsionador de confiança no mercado por parte dos outros operadores, e a empresa recém formada quase que imediatamente começou a operar no vermelho.  A gestão dessas mudanças, avarias mecânicas, e um mercado superlotado acabaria por ditar igualmente o fim da "Premier". No final de 1998, ao navio foi novamente dado novas cores.



No que deve ser visto como uma jogada imprudente, o Seawind Crown foi transferido da sua base de sucesso para Puerto Vallarta em Aruba no final de 1999, em que ofereciam cruzeiros semanais ao longo da Riviera Mexicana. Os resultados foram catastróficos, e o navio foi retirado depois de apenas de alguns circuitos. A Pullmantur Cruises sediada em Espanha, levou o navio para Barcelona em que seria incluído num programa de cruzeiros semanais no Mediterrâneo.

O navio trabalhou exaustivamente e sem quaisquer avarias relevantes e tornou-se assim um óptimo negócio para a "Pullmantur" que se mostrava interessada em mantê-lo em funcionamento. Porém, quando a "Premier" abriu falência (Setembro de 2000) todos os seus bens e frota foram apreendidos para pagamento das dívidas, e o Seawind Crown foi impedido de partir de Barcelona (17 de Setembro) ficando assim arrestado com a sua tripulação que era constituída por 260 pessoas.

Foram momentos de angústia para a tripulação que viveu a bordo do navio durante seis meses. Tanto a Pullmantur ou a empresa de operações técnicas "Price Waterhouse Coopers" não conseguiam pagar salários ou resolver o problema das dívidas. Por sua vez a tripulação dependia da bondade de pessoas anónimas e de outras organizações que lhes levavam mantimentos, conseguindo no fim arranjar financiamento para o pagamento das viagens de regresso dos seus tripulantes aos países de origem. Enquanto o navio estava enmaranhado na burocracia legal, a venda não poderia ser garantida, por isso Seawind Crown foi transferido do Centro de Comércio Mundial em Barcelona para um lugar solitário perto do molhe exterior do porto.

Em Março de 2002, o navio teve o triste fim. As máquinas desligaram-se por completo, fincando assim na condição de "navio morto". A chaminé foi coberta, as portas seladas, as tampas das escotilhas fechadas,  a piscina drenada, os amortecedores fechados e selados, enfim o que outrora tinha sido um navio magnífico estava agora em vias de desmantelamento. A Autoridade Portuária de Barcelona assumiu o controle do navio, e com o cais ocupado pelo navio e com a necessidade desse espaço para a colocação de um tanque de óleo, optou por colocar o navio em leilão.

A 28 Dezembro de 2003, o navio seria baptizado como "Batumi" e registado em Barcelona. O ex-Infante Dom Henrique, Vasco da Gama, Seawind  Crown iria fazer uma última viagem para a India, deixando Barcelona para o destino de Mumbai (Bombaim) onde acabou por ser desmantelado.

Especificações técnicas enquanto Infante Dom Henrique

TipoNavio de passageiros de 2 hélices
ConstrutorSociété Anonyme Cockerill-Ougrée
Local construçãoHoboken - Bélgica
Ano de construção1961
Ano de abate1977 (Serviço estático em Sines 1977-86)
Comprimento fora a fora195,6 m
Boca máxima24,6 m
Pontal14,3 m
Calado máximo8,2 m
Deslocamento24.406 Toneladas
Arqueação bruta23.306 Toneladas
Porte bruto11.179 Toneladas
Capacidade de carga10.504 m3 de carga geral e frigorifica em 4 porões.
Aparelho propulsorDois grupos de turbinas a vapor Westinghouse; 3 caldeiras.
Para produção de energia: 3 tubogeradores e 1 gerador Diesel
Potência22.000 SHP
Velocidade máxima21 nós
PassageirosAlojamentos para 156 em primeira classe, 384 em turistica A, 478 em turistica B no total de 1.018 passageiros
Tripulantes318
ArmadorCompanhia Colonial de Navegação - Lisboa


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